Te chamaram para ser testemunha? Advogado explica o que fazer

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Ser testemunha em um processo judicial pode ser uma experiência desafiadora, mas essencial para a busca da justiça.

Dados do Relatório Justiça em Números 2024, elaborado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), mostram o enorme volume de demandas que chegam aos tribunais brasileiros. São quase 84 milhões de processos em tramitação, distribuídos entre 91 tribunais, sendo mais de 80% na Justiça Estadual. Esses números são manejados por cerca de 18 mil juízes e 275 mil servidores.

Em 2023, o índice de judicialização atingiu um recorde, com 35 milhões de novos casos, um aumento de 9,5% em relação ao ano anterior. Por conta disso, cada magistrado julga, em média, mais de 2 mil processos por ano.

Nesse cenário de alta complexidade, o papel da testemunha se torna fundamental para facilitar o andamento dos casos e garantir que os fatos sejam esclarecidos de maneira justa e precisa.

Para compreender mais sobre o tema, no post de hoje vamos explicar os direitos, deveres e a importância de ser testemunha em processos judiciais.

Entendendo o papel de uma testemunha

As testemunhas desempenham um papel essencial nos processos judiciais, pois são responsáveis por apresentar relatos que ajudam a esclarecer os fatos. Elas contribuem para a busca da verdade, sendo peças-chave nas decisões judiciais.

Além de fornecerem informações relevantes, as testemunhas também podem ser a base para comprovar ou refutar alegações feitas pelas partes envolvidas no caso, tornando seu depoimento essencial para a justiça.

O que significa ser testemunha em um processo judicial?

De acordo com o glossário jurídico do portal Aurum, a testemunha é a pessoa que, por ter presenciado ou tomado conhecimento de um fato, é chamada para relatar o que sabe em juízo. Esse depoimento serve para auxiliar no esclarecimento da verdade, seja em processos trabalhistas, cíveis ou criminais.

Há dois tipos principais de testemunhas: as de defesa e as de acusação. A testemunha de defesa é convocada para apresentar informações que favorecem o réu ou a parte acusada, enquanto a de acusação contribui com elementos que sustentam as alegações do autor ou da acusação. Em ambos os casos, o compromisso é sempre com a veracidade dos fatos, não com as partes.

Diferenças entre convite informal e formal

O convite informal ocorre quando alguém, como um colega de trabalho ou amigo, solicita diretamente que você preste depoimento em seu favor. Esse tipo de convite não tem força legal, o que significa que você pode aceitar ou recusar sem qualquer consequência jurídica. É uma prática comum em casos trabalhistas, mas cabe à pessoa decidir se quer ou não participar.

Já a convocação formal é diferente, pois envolve uma comunicação oficial, conhecida como intimação, emitida pelo tribunal. Essa intimação estabelece uma obrigação legal de comparecer à audiência e prestar depoimento. A legislação, especialmente o artigo 206 do Código de Processo Penal (CPP), determina que a testemunha não pode se recusar a depor, salvo em situações excepcionais, como quando o depoimento possa causar sérios prejuízos à própria testemunha ou a seus familiares.

Ignorar uma convocação formal sem justificativa pode resultar em penalidades, como multas, condução coercitiva por autoridades ou até a acusação de desobediência. Por isso, é importante cumprir a intimação e participar da audiência, seja presencialmente ou por videoconferência, conforme orientado pelo tribunal.

A importância das testemunhas no processo judicial

As testemunhas são essenciais para que a justiça funcione de maneira justa e correta. O depoimento de quem presenciou ou tem conhecimento sobre os fatos ajuda o juiz a entender melhor o caso e tomar decisões mais precisas.

A veracidade das informações fornecidas é o que garante que a verdade venha à tona, contribuindo para resolver conflitos de forma equilibrada. Sem testemunhas comprometidas com a verdade, muitos processos poderiam se arrastar ou até mesmo levar a decisões injustas.

Por isso, o papel das testemunhas vai muito além de um simples relato: é uma contribuição direta para a justiça.

Direitos e deveres de uma testemunha

As testemunhas têm um papel importante na busca pela verdade durante um processo judicial, e com isso vêm direitos e deveres específicos.

Qualquer pessoa pode ser chamada para testemunhar, desde que esteja em pleno uso de suas faculdades mentais e não tenha relação de interesse direto com o caso, como determina o artigo 447 do Código de Processo Civil. Existem exceções, como menores de 16 anos ou pessoas incapazes de compreender os fatos por limitações de saúde mental.

Entender esses direitos e deveres ajuda a garantir que a justiça seja cumprida com responsabilidade.

Direitos relacionados a custos e trabalho

As testemunhas têm garantias importantes relacionadas à sua participação no processo. Segundo o portal JusBrasil, caso a pessoa tenha despesas, como transporte para comparecer à audiência, ela pode solicitar reembolso ao juiz.

Além disso, trabalhadores com carteira assinada não podem ter descontos no salário ou prejuízo no tempo de serviço por precisarem faltar ao trabalho para testemunhar. Essas medidas existem para que as testemunhas não sejam penalizadas ao contribuir com a justiça.

Obrigações de falar a verdade

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Testemunhar implica o dever de relatar apenas os fatos verdadeiros, sem distorções. Mentir sob juramento é considerado crime de falso testemunho, previsto no artigo 342 do Código Penal, podendo resultar em penas que incluem reclusão e multa.

Essa obrigação reforça a importância da ética e da responsabilidade no processo judicial, uma vez que a justiça depende da honestidade das testemunhas para chegar à verdade e tomar decisões justas.

A Lei 9.807/1999 foi criada para proteger testemunhas que se sentem ameaçadas devido ao conteúdo de seus depoimentos. Essa lei oferece medidas de segurança para preservar a integridade física, psicológica e até mesmo a identidade de quem colabora com a justiça em situações de risco.

A proteção é garantida principalmente em casos criminais mais graves, como homicídios, tráfico de drogas ou corrupção, onde o depoimento pode expor a testemunha a represálias.

Entre as medidas previstas estão mudanças de endereço, sigilo de informações pessoais e até o uso de identidades protegidas. Essas ações visam garantir que ninguém deixe de depor por medo, contribuindo para a verdade sem riscos à sua segurança.

Como se preparar para ser testemunha

Ser testemunha em uma audiência pode gerar dúvidas e ansiedade, mas com um pouco de preparação, é possível contribuir de maneira tranquila e eficiente.

Antes do dia da audiência, é importante estar ciente das informações que serão exigidas e garantir que você estará apto a prestar um depoimento claro e verdadeiro. Aqui estão algumas dicas iniciais:

  • Tenha em mente os fatos que você presenciou ou conhece, sem criar narrativas ou suposições.
  • Revise documentos ou registros que possam ajudar a recordar detalhes importantes.
  • Certifique-se de estar disponível na data e horário estipulados na convocação.

O que levar para a audiência?

A legislação determina que a testemunha deve apresentar um documento oficial com foto, como RG ou CNH, para comprovar sua identidade. Se houver necessidade de apresentar algum comprovante de despesas, como passagens ou recibos, leve os comprovantes para solicitar o reembolso ao juiz, conforme permitido. Caso você tenha sido intimado, leve também a intimação recebida, para evitar contratempos.

Como lidar com o nervosismo ao depor?

Ficar nervoso é comum, mas lembrar que seu papel é relatar a verdade pode ajudar. Respire fundo e responda com calma, apenas ao que for perguntado. Evite se precipitar e, se necessário, peça ao juiz ou aos advogados que repitam as perguntas. Manter o foco na verdade é a melhor maneira de superar o nervosismo.

Impacto de ser testemunha no ambiente de trabalho

Ser testemunha em um processo judicial envolvendo a empresa onde trabalha pode gerar insegurança para muitos funcionários, especialmente em casos trabalhistas. Contudo, a lei brasileira protege o trabalhador contra retaliações.

Não é permitido que uma empresa demita ou tome medidas punitivas contra um empregado pelo simples fato de ele aceitar ou recusar testemunhar, ou ainda por relatar fatos que possam prejudicá-la. Caso isso ocorra, é possível buscar a justiça para reverter a demissão ou obter reparação pelos danos sofridos.

A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em conjunto com o Código de Processo Civil, assegura que o trabalhador não sofra descontos no salário ou em benefícios ao participar de audiências como testemunha. Além disso, empresas que realizam retaliações, como transferências injustificadas ou redução de atribuições, podem ser responsabilizadas judicialmente.

Se houver retaliações, o indicado é registrar as situações, reunir provas e buscar orientação jurídica com um advogado especializado em direito trabalhista. Ser testemunha é um ato que fortalece a justiça, e o trabalhador não deve temer represálias ao cumprir esse papel. Essas proteções legais garantem que os empregados possam colaborar com a verdade sem prejudicar sua carreira ou segurança no ambiente de trabalho.

Perguntas frequentes sobre ser testemunha

As dúvidas sobre ser testemunha em um processo judicial são comuns, especialmente para quem nunca passou por essa experiência, confira:

O que acontece se eu não comparecer?

Se você foi intimado formalmente e não comparecer à audiência sem uma justificativa válida, poderá sofrer penalidades previstas em lei, como multa ou condução coercitiva. É essencial comunicar antecipadamente ao tribunal caso exista algum impedimento para comparecer, apresentando documentação que comprove o motivo, como atestados médicos.

Posso levar um advogado?

Sim, é permitido que a testemunha leve seu próprio advogado, especialmente em situações onde suas respostas possam gerar impactos diretos para ela.

Esse direito está garantido pelo artigo 5º da Constituição Federal, que estabelece o princípio da legalidade. Segundo esse princípio, qualquer pessoa pode realizar tudo o que não está expressamente proibido por lei. Assim, não há impedimento para que a testemunha esteja acompanhada de um advogado durante o depoimento.

Esse acompanhamento pode ser especialmente útil em casos complexos, como aqueles em que o depoimento envolve informações sensíveis ou situações que podem gerar repercussões legais para a testemunha.

O advogado pode orientá-la sobre o que é permitido responder ou quando o silêncio é uma proteção garantida pela lei. Essa assistência ajuda a assegurar que o papel da testemunha seja exercido de forma justa e dentro dos limites legais.

O que acontece se eu não lembrar dos fatos?

Se a testemunha não se recordar claramente dos fatos, deve ser honesta e informar ao juiz que não se lembra. Inventar informações pode gerar consequências graves, como acusação de falso testemunho.

Sou obrigado a responder todas as perguntas?

A testemunha deve responder todas as perguntas, exceto aquelas que possam gerar graves danos a ela mesma ou a familiares próximos, ou quando estiver protegida por sigilo profissional, conforme previsto no artigo 406 do Código de Processo Civil.

E se eu não falar a verdade?

Conforme mencionado anteriormente, mentir durante um depoimento como testemunha é considerado crime de falso testemunho, conforme o artigo 342 do Código Penal Brasileiro. Esse crime ocorre quando a testemunha omite a verdade, mente ou altera os fatos intencionalmente, comprometendo o andamento do processo judicial.

A pena para o falso testemunho é de 2 a 4 anos de reclusão, além de multa. Em casos onde a mentira prejudica diretamente o processo ou é cometida em benefício próprio, a pena pode ser aumentada. Segundo o Projeto de Lei 3148/21, há discussões sobre a inclusão do crime de perjúrio, ampliando as penalidades para até 6 anos de reclusão em situações específicas (fonte: Câmara dos Deputados).

Por isso, é fundamental que a testemunha se comprometa com a verdade, evitando qualquer tentativa de enganar a justiça.

É possível ser chamado novamente?

Sim, dependendo do andamento do processo e da necessidade de mais esclarecimentos, a testemunha pode ser convocada para prestar depoimento novamente. Nesses casos, será emitida uma nova intimação formal.

Como acompanhar o processo depois de testemunhar?

Qualquer pessoa pode acompanhar o andamento do processo judicial acessando o site do tribunal onde ele tramita, utilizando o número do processo informado na intimação. Em caso de dúvidas, é possível entrar em contato diretamente com o advogado da parte que a convocou.

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