
A herança é um dos temas mais delicados e importantes do Direito Civil brasileiro. Ela envolve questões patrimoniais, familiares, emocionais e culturais.
Com a proposta de reforma do Código Civil, as regras sobre como o patrimônio é transmitido após a morte devem passar por mudanças profundas. E essas alterações vão muito além da técnica jurídica.
Uma mudança relevante da proposta deve ser justamente a sucessão de bens, que deixará de considerar o cônjuge como “herdeiro necessário”. A lei atualmente coloca como herdeiros necessários os descendentes (filhos, netos, bisnetos), os ascendentes (pais, avós, bisavós) e o cônjuge (Fonte: Veja).
A seguir, você vai entender o que está em debate, o que pode mudar e quais os impactos práticos para famílias, herdeiros e profissionais do Direito.
Por que a reforma do Código Civil é necessária?
O Código Civil brasileiro, em vigor desde 2002, já nasce de um esforço de atualização das normas que vinham desde 1916. Apesar de relativamente recente, ele não acompanhou, na velocidade adequada, as profundas transformações sociais das últimas décadas.
Hoje, a estrutura familiar é muito mais diversa. A união estável cresceu exponencialmente, o número de casais sem filhos aumentou, e as chamadas famílias recompostas são cada vez mais comuns. Além disso, há um desejo crescente de autonomia individual na hora de decidir o destino do próprio patrimônio.
A herança, nesse contexto, permanece fortemente engessada. Normas rígidas limitam a liberdade do testador e não refletem mais os vínculos reais entre os membros de uma família contemporânea.
A reforma vem, portanto, como resposta a essas transformações. Mais do que um ajuste legal, é uma tentativa de modernizar o olhar do Estado sobre o que constitui uma herança justa.
Herança: o lugar dos companheiros na linha sucessória
Uma das principais propostas de mudança está na equiparação entre cônjuges e companheiros na sucessão. Hoje, a legislação faz distinção entre quem é casado no papel e quem vive em união estável.
Na prática, o companheiro só tem direito à herança em situações restritas e, muitas vezes, acaba disputando judicialmente a parte que entende ser justa. Com a reforma, essa diferença deixaria de existir. Companheiros passariam a ter os mesmos direitos sucessórios que os cônjuges, independentemente de formalização no cartório.
Essa mudança traz mais justiça para casais que vivem há anos juntos, compartilham bens e construíram família, mas que, por diferentes razões, nunca oficializaram a união.
Casamento x União Estável
A distinção legal entre casamento e união estável sempre foi motivo de controvérsia. Enquanto o casamento traz garantias expressas no papel, a união estável, mesmo sendo reconhecida legalmente, exige comprovação prática.
A equiparação proposta diminui essa insegurança. Mas também levanta pontos delicados: o direito de herdar não deve depender de uma decisão afetiva tomada informalmente?
Além disso, como garantir que não haja abusos ou simulações com objetivos exclusivamente patrimoniais? O debate está aberto e exige uma ponderação entre segurança jurídica e realidade social.
Redução da parte legítima dos herdeiros necessários
Hoje, a lei determina que 50% da herança deve obrigatoriamente ser destinada aos chamados herdeiros necessários: descendentes, ascendentes e cônjuges. Ou seja, mesmo que o falecido deseje deixar seu patrimônio para outras pessoas, ele só tem liberdade sobre metade do que possui.
A proposta da reforma reduz essa parte obrigatória para 25%. Com isso, o testador teria maior autonomia para decidir o destino de 75% de seus bens. Essa mudança valoriza o princípio da liberdade individual e permite reconhecer laços afetivos que não são amparados pela regra atual.
No entanto, há quem veja nisso um risco: será que filhos e pais deixarão de ser protegidos pela lei? É preciso considerar também contextos de dependência econômica, relações conflituosas e até manipulações em fases vulneráveis da vida.
Liberdade testamentária ampliada
A redução da parte legítima gera um efeito direto: aumenta a chamada liberdade testamentária. Ou seja, o direito do testador de escolher quem vai receber seu patrimônio após a morte.
Hoje, essa liberdade se limita a 50% da herança. Com a reforma, poderá chegar a 75%. Essa mudança favorece quem deseja reconhecer vínculos não formais, premiar amizades duradouras, ajudar instituições sociais ou valorizar filhos com os quais mantém relações mais próximas.
Impacto para famílias recompostas na herança
Nas famílias recompostas, que envolvem filhos de diferentes uniões, padrastos, madrastas e enteados, o modelo atual de herança é especialmente problemático. A regra da herança automática para herdeiros necessários pode excluir afetivamente pessoas que foram fundamentais na vida do falecido.
Com mais liberdade testamentária, o testador pode equilibrar essa equação. Pode deixar parte dos bens para filhos biológicos e parte para enteados, por exemplo. Ou reconhecer o esforço de um cônjuge que esteve ao lado durante décadas, mesmo sem laços de sangue com os herdeiros legítimos.
Essa mudança traz mais justiça emocional à herança, algo que o modelo atual não contempla.
Proteção patrimonial e planejamento sucessório
Com mais liberdade vem também mais responsabilidade. A reforma deve estimular o crescimento do planejamento sucessório no Brasil. Ferramentas como testamentos, holdings familiares, doações em vida e seguros passarão a ser ainda mais importantes.
A organização antecipada da herança evitará conflitos, reduzirá litígios e permitirá que a vontade do falecido seja cumprida com clareza. Essa nova cultura de planejamento pode, inclusive, ajudar a desburocratizar o Judiciário, hoje sobrecarregado com inventários longos e conflituosos.
Profissionais do Direito devem se preparar para essa nova realidade. Mais do que conhecer a lei, precisarão saber orientar emocionalmente e estrategicamente seus clientes.

O futuro da herança no Brasil
As mudanças propostas refletem um novo entendimento sobre o papel da herança na sociedade. Não se trata apenas de distribuir bens, mas de reconhecer a complexidade dos vínculos humanos.
Ao flexibilizar regras, o Código Civil se aproxima de uma sociedade plural, conectada, emocionalmente diversa. Permite que o testador tenha mais voz e que a herança reflita sua real história de vida.
É claro que isso não elimina os desafios. Conflitos familiares continuarão existindo, mas haverá mais instrumentos jurídicos para prevenir, reduzir ou resolver essas disputas. O futuro da herança no Brasil caminha para o equilíbrio entre liberdade, justiça e responsabilidade.
Transformações significativas
A proposta de reforma do Código Civil traz transformações significativas nas regras da herança e partilha de bens. Equiparação entre companheiros e cônjuges, redução da parte legítima, ampliação da liberdade testamentária e estímulo ao planejamento sucessório são apenas algumas das mudanças em jogo.
É um momento importante para se informar, debater e, acima de tudo, planejar.
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