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Você fala como orador ou como ator?

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Submitted by eopen on qua, 18/07/2018 – 10:06 Grandes oradores são raros hoje. Quando se faz referência a alguém
extraordinário na arte de falar em público, geralmente, são destacados
antigos políticos como Carlos Lacerda ou Jânio Quadros. De novo, quase
nada.De vez em quando, surge um advogado criminalista que
impressiona com sua eloqüência, como Waldir Troncoso Peres; religiosos
que encantam os fiéis e arrebatam multidões, como o padre Marcelo Rossi
ou o bispo Edir Macedo. E só.Não que tenham desaparecido os
bons oradores. Não que não possamos encontrar pessoas que saibam
enfrentar e persuadir com competência uma platéia. Ao contrário, eles
estão assomando as tribunas em número cada vez maior.Entretanto,
oradores marcantes, que fazem as pessoas mudarem compromissos ou se
disponham a ouvi-los independentemente de qualquer outro programa que
pudessem ter, escassearam muito nos tempos recentes.Talvez a
última grande novidade em oratória tenha sido o ex-deputado Roberto
Jefferson. Ele apareceu como um furacão e conquistou uma legião de
admiradores. Muitas pessoas ficaram tão empolgadas com seu desempenho
diante dos microfones que me pediram que as ensinasse a falar como ele.Como sua maior exposição ocorreu na época da CPMI dos Correios
e das denúncias do esquema do mensalão, muita gente associou sua imagem
com aquele triste momento da história do Brasil e deixou de observar
sua excepcional capacidade de comunicação.João Mellão Neto,
extraordinário jornalista, disse em um de seus textos: “Assisti, por
mais de três horas, ao depoimento do deputado Roberto Jefferson no
Conselho de Ética da Câmara. Impecável. Nota 10 em postura, retórica,
clareza de raciocínio, domínio da platéia. O professor Reinaldo Polito,
grande mestre da oratória, haverá de me dar razão”.Sem dúvida
o ex-ministro estava certo em sua avaliação. Mas, por que as pessoas
ficaram fascinadas pela comunicação do ex-deputado petebista? Quais os
aspectos da sua oratória o tornaram diferenciado e poderiam servir como
exemplo para que você pudesse também aprimorar a comunicação?Vamos começar pela vozde Roberto Jefferson. A voz tem ótimo timbre, é sonora, forte e muito
bem articulada. A dicção é perfeita. Alterna a velocidade da fala e o
volume da voz com naturalidade, produzindo um ritmo melodioso e
agradável.Sempre que encerra um pensamento faz pausas
apropriadas, conseguindo assim valorizar as informações que transmitiu
e permitir que os ouvintes tenham condições de refletir sobre a
mensagem que acabou de comunicar. Sabe ser agressivo quando
enfrenta um adversário e mostra-se indignado ou se vale da ironia para
se defender dos ataques que recebe. Recorre à voz para evitar os
apartes quando os julga inconvenientes. Outro aspecto que chama a atenção pela qualidade na comunicação do orador é o seu vocabulário. Roberto Jefferson jamais hesita quando precisa encontrar a palavra adequada para corporificar seu raciocínio. A
construção das frases é perfeita, sempre com começo, meio e fim. Não
comete erros gramaticais grosseiros. Conjuga os verbos de forma correta
e se preocupa em fazer com acerto as concordâncias. Possui o
automatismo da fala. Isto é, por causa das diversas atividades que
exerceu ou ainda exerce como apresentador de televisão, advogado,
político, está tão acostumado a falar em público que ao pronunciar a
primeira palavra de uma frase, todas as outras aparecem automaticamente
para concluir o pensamento. Basta observar as diversas
entrevistas que deu sobre o mesmo tema -algumas frases são exatamente
as mesmas. Essa qualidade dá a ele fluência e muito desembaraço. E
talvez esteja na expressão corporal um dos pontos mais fortes da sua
comunicação. Os gestos, o jogo fisionômico, especialmente o olhar, a
forma como inclina o corpo para a frente durante o ataque, e recua para
se defender ou refletir, são detalhes que trabalham em perfeita
harmonia com a inflexão da voz e a mensagem. O conjunto é harmonioso e
coerente. Nenhum orador pode pretender sucesso se não tiver
conteúdo. Roberto Jefferson navega com tranqüilidade sobre qualquer
tema, seja assunto relacionado ou não à política. Sabe organizar os
argumentos em uma ordenação lógica que desnorteia seus adversários.Refuta
as objeções contrárias como se soubesse com bastante antecedência o que
as pessoas iriam dizer. Não deixa apartes ou ataques sem resposta. Sabe
que do choque entre a tese e antítese irá prevalecer o que não for
destruído, e que servirá como síntese, ou seja, sobrará para o
julgamento.Além de todas essas qualidades, fala com paixão, com
envolvimento, com entusiasmo, com emoção. Em nenhum momento se expressa
só por se expressar -demonstra de maneira evidente e bastante clara que
a mensagem que está comunicando é relevante, e se é importante para
ele, deve ser também para os ouvintes. Mostra-se destemido e
muito corajoso. Entretanto, embora possua todas essas qualidades, que
constituem a aplicação prática dos conceitos teóricos da boa
comunicação, só a história poderá dizer se ele é realmente um bom
orador. Na verdade, as únicas pessoas que podem dar essa
resposta são ele próprio e aqueles a quem acusou. Por enquanto vamos
nos ater apenas aos aspectos estéticos da comunicação, sabendo que
alguém só poderá ser considerado um bom orador se o que diz estiver
respaldado na ética e na verdade. Faço a ressalva porque seus
oponentes disseram que suas acusações são infundadas. Por isso se ele
tiver sido verdadeiro, se as suas acusações encontrarem amparo na
sinceridade, poderá ser considerado um dos melhores oradores que o
Brasil já conheceu. Se, por outro lado, alguma informação não
tiver apoio na realidade dos fatos, poderá ser considerado apenas um
bom ator. Como eu disse, só o futuro poderá nos dar a resposta. Fonte Veja Online

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