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Supremo ouve sustentação da advogada-índia

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Submitted by eopen on qua, 18/07/2018 – 10:37 Pela primeira vez na história do Supremo, um índio sobe à tribuna
para fazer uma sustentação oral. A estréia é de uma mulher: a advogada
Joênia Batista de Carvalho, do povo Wapichana. Pouco antes de falar aos
11 ministros, ela relia os pontos do texto escrito à mão, com algumas
rasuras. Ali estava a defesa dos cerca de 19 mil índios que desejam
viver na área integral da Raposa Serra do Sol. “Será a primeira sustentação que eu faço, e logo no Supremo”, dizia
a advogada, nervosa, pouco antes de chegar ao microfone. Ela conta que
foi a primeira índia a se tornar advogada no Brasil e está acostumada a
fazer audiências, mas dessa vez é diferente. “Eu serei a voz dos índios
na mais alta Corte do Brasil”, resumiu. Até hoje, poucos colegas de trabalho vieram de tribos. “Somos cerca
de vinte formados no País inteiro, e apenas sete têm carteira da Ordem
dos Advogados do Brasil”, informa. Joênia reconhece que “advoga em
causa própria” a maior parte do tempo. Isso porque ela trabalha no
Conselho Indígena de Roraima (CIR). “Meu trabalho eu faço por amor,
porque minha família e meu povo precisam disso. Estou defendendo uma
terra que é minha, para a qual pretendo voltar depois desse tempo na
cidade”, afirma.Esse “tempo na cidade” começou quando a menina índia tinha oito anos
de idade e a família a levou para estudar em Boa Vista. Foi boa aluna
no ensino fundamental e passou no vestibular de Direito na Universidade
Federal de Roraima. “Naquela época não havia cotas”, lembra. Durante o
curso, ela começou a trabalhar com os direitos dos índios, área em que
atua desde então. Em casa, ela já ouve Cristina, a filha de 13 anos,
dizer que quer seguir os seus passos. “Eu darei apoio à profissão que
meus filhos escolherem, porque as tribos precisam de profissionais como
médicos, advogados e tantos outros”, destaca.Para ela, a Constituição é uma das melhores em garantias aos índios,
e trouxe inovações em relação à anterior. “Temos um bonito texto, agora
precisamos detalhá-la para funcionar melhor”, adverte.FamíliaA maior parte da família de Joênia, inclusive o pai, ainda vive na
tribo Wapichana. Ela mora em Boa Vista com o marido, a mãe e dois
filhos, Jackson e Cristina.Joênia teve oito irmãos, mas quatro morreram pequenos de sarampo e
outras doenças, na década de 70. Em casa, em Boa Vista, ela tenta
manter as tradições da família, a espiritualidade indígena e o dialeto
Wapichana, embora as crianças saibam melhor o português. Mesmo assim,
os dois não se esquecem de onde vieram. Na escola, a filha se sentiu
deslocada por ser índia, mas logo fez amigos. “Eu mostrei a ela que ser
índio é orgulho, que não precisamos esconder nossa identidade nem nossa
honra”, declara a mãe.A advogada não contou para os pais que faria a sua primeira
sustentação hoje – e diante da mais alta Corte da Justiça brasileira.
“Minha mãe tem medo quando eu venho a Brasília, fica doente porque acha
que tem muita gente me querendo mal. Então eu não contei para ela não
se preocupar”, diz. Os filhos de Joênia e o marido, contudo, sabem que
ela foi ouvida por todo o País em favor da permanência da terra com os
índios. Fonte Superior Tribunal de Justiça

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