
Há diversos tipos de preconceito vivenciados diariamente pelas pessoas. Alguns deles passaram a ser discutidos pelo público há pouco tempo, muito embora existam desde sempre. A gordofobia é um desses casos.
O próprio nome já ajuda a esclarecer o tipo de preconceito de que se trata a gordofobia. Mas vamos entender melhor, destacando definições formais à respeito dele.
O que é gordofobia?
“Gordofobia é um neologismo para o comportamento de pessoas que julgam alguém inferior, desprezível ou repugnante por ser gordo. Funciona como qualquer outro preconceito baseado em uma característica única”, explica o Dr. Adriano Segal, psiquiatra do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
O estigma social da obesidade refere-se à assunção preconceituosa de características de personalidade baseada no julgamento de uma pessoa por ter excesso de peso ou por ser obesa. É também conhecido como fat-shaming ou gordofobia.
Então, a gordofobia é o preconceito relacionado ao fato de determinada pessoa estar acima do peso considerado para a maioria como ideal.
Por que a gordofobia é um problema?
Assim como todo tipo de preconceito, tais como racismo e xenofobia, a gordofobia é um grande problema social.
Em se tratando de sobrepeso, as pesquisas mostram que, atualmente, no Brasil, mais de 50% da população se encontra nessa faixa. Até 2030, 30% da população adulta brasileira viverá com obesidade.
Os números trazem uma verdade muito clara que não podemos desconsiderar. Um número significativo da população se encontra em situação de vivenciar experiências relacionadas à gordofobia.
Ainda há o agravante de que a gordofobia é uma opressão estrutural. Ou seja, está enraizada no senso comum e se manifesta de inúmeras sutis formas, sem que as pessoas parem para refletir o quanto discursos dessa natureza são agressivos.
O número a seguir comprova isso: um levantamento feito em fevereiro de 2022 pela Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) e a Sociedade Brasileira de Metabologia e Endocrinologia (SBEM), concluiu que 85,3% das pessoas consideradas obesas no Brasil já passaram por situações de gordofobia.
Consequências da gordofobia
De acordo com estudos de conscientização publicados pelo Senado Federal, tal discriminação leva à exclusão social e, consequentemente, nega acessibilidade às pessoas gordas.
Além disso, deixa danos permanentes na pessoa atingida, tais como: problemas sérios de autoestima, transtornos de imagem corporal e alimentares, depressão, ansiedade e podendo chegar até ao suicídio.
De acordo com a revista científica PHYSIS Revista de Saúde Coletiva, a gordofobia configura um fator de risco para a saúde das pessoas gordas, pois promove sua exclusão e intensifica sua vulnerabilidade. Isso acontece por
- promove uma relação transtornada com a comida,
- retirar o direito da pessoa gorda se exercitar com segurança e afasta-as da prática de tais atividades;
- comprometer a saúde psíquica e social da pessoa gorda.
Como a gordofobia se manifesta no dia a dia?
Sendo um problema estrutural, a gordofobia se manifesta no dia a dia de muitas maneiras, sendo a principal delas nas relações sociais. Preconceito disfarçado de cuidado é um clássico. Duas frases comuns que são clássicas em discursos preconceituosos:
“Você não está gorda, você está linda”: não valide a beleza de alguém contrariando seu corpo. Não padronize beleza aos corpos magros.
“Você come pouco para uma pessoa gorda”: a quantidade de comida que alguém consome nem sempre está ligado ao fato de alguém ser uma pessoa gorda.
Além disso, muitas pessoas obesas
- têm muita dificuldade para comprar roupas,
- para encontrar assentos em espaços públicos,
- têm medo de serem constrangidas em serviços de saúde.

Gordofobia é crime?
Infelizmente, a gordofobia ainda não foi tipificada como crime por uma legislação específica. No entanto, é possível acionar a Justiça pela ridicularização e inviabilização do corpo.
Devido à inexistência de uma lei própria, a pessoa ofendida terá que alegar que sofreu injúria e não gordofobia. A Injúria, por sua vez, é um crime contra a honra.
Porém, a discussão para criminalizar o preconceito contra pessoas gordas está avançando: a PL 1786/22 é um projeto de lei que tem como objetivo incluir a discriminação ou preconceito em razão do peso corporal relacionado à obesidade nos crimes previstos na Lei 7.716, de 05 de janeiro de 1989.
A lei 7716/89, por sua vez, define sobre crimes resultantes de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Importante ressaltar que ela já avançou uma vez ao ampliar o espectro de preconceitos que abrange (antes restritos à raça ou cor).
O estado de Rondônia, assim como a cidade de Recife, criaram leis que asseguram proteção e inclusão para a pessoa gorda e promovem o combate à gordofobia, além de determinar o dia 10 de setembro como o Dia do Combate à Gordofobia.
Apesar de ainda não existir uma lei específica, de âmbito nacional, que trate da gordofobia, há casos de pessoas que levaram esse tipo de preconceito aos tribunais.
A Constituição Federal garante como fundamento à dignidade humana, além dos objetivos fundamentais de promover o bem de todos sem preconceito.
Como se combate a gordofobia?
Para que a gordofobia deixe de ser uma realidade, em primeiro lugar é necessário mudar o pensamento. É urgente desmantelar a ideia preconceituosa de que beleza está atrelada à um corpo magro.
Depois disso, é fundamental não reverberar piadas ou fazer comentários sobre o corpo alheio. Valorize as pessoas além de seu aspecto físico e torne-se um aliado da luta pela inclusão e acessibilidade a todos os corpos.
Vítimas de gordofobia devem fazer denúncias
Independentemente de “como” recorrer à justiça para tratar da gordofobia, é importante sempre denunciar este tipo de agressão.
Porque quanto mais relatos houver, maior visibilidade este tema ganha e bem como maior será a celeridade na elaboração de leis específicas.
Ainda que não esteja tipificado na lei, a gordofobia é uma agressão. Ela assola a vida pessoas assim como todo e qualquer outro tipo de preconceito.
Por isso, esse tema deve ser tratado com o rigor da lei e com toda a importância que ele carrega.
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